sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vão mas é assar sardinhas!

Há uns 35 anos, quando eu era estudante universitário, estava em voga uma música cuja letra rezava assim:
Quando eu era pequenino
Minha mãe disse vai, vai
Vai depressa assar sardinhas
Para o jantar do teu pai.

Estava a assar sardinhas
Com o lume a arder
Queimei a pilinha
Sem ninguém saber
Se fosse outra coisa
Eu não me importava
Mas era a pilinha
Que eu tanto estimava!

Esta musica e letra são, salvo erro, de um fino poeta e musico nortenho chamado Quim Barreiros.
Ora a malta da Universidade delirava com isto. Não havia ninguém que não soubesse esta letra de cor.
Hoje, passados 35 anos, há por aí umas mentes brilhantes que apregoam a perdição da nossa juventude porque tem os gostos estragados: só ouvem Tokio Hotel, só lêem jornais desportivos e revistas cor de rosa... então e nós, a geração brilhante, os velhos do Restelo que (pelos vistos) tudo sabíamos e tínhamos gostos refinados, ouvíamos o quê? Quim Barreiros ou Beethoven? Líamos Proust ou a Playboy? Obviamente, nem é preciso responder a estas perguntas.
Portanto, aos velhos do Restelo da minha geração, eu digo:
- Vão mas é assar sardinhas!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vampiros, lobisomens e muito sangue

Chegou a avalanche dos livros fantásticos com muito sangue, muito mistério estúpido e muitos personagens bestiais (a la lettre - bestial de besta, note-se).
Triunfo da estupidez?
Vitória da palermice mais tacanha?
A vingança dos irracionais?
Talvez.
Mas, acima de tudo, esta onda é o triunfo do medo mais primário que alguma vez se viu. Este refúgio no fantástico reflete uma tendência típica do ser humano para dramatizar qualquer momento de crise, qualquer medo irracional que lhe possa despertar o pavor do Apocalipse.
Aproxima-se 2012. Uns tremem de medo, outros ganham dinheiro com isso.
Ou seja, o verdadeiro monstro será o do Apocalipse ou o do capitalismo agonizante?

Por Ubu!

Anda por aí um anúncio de galinhas felizes, dentro de um forno, à espera de serem transformadas em fiambre fumado, conversando animadamente com um lenhador.
Primeiro, nunca ouvi falar de fiambre de galinha; segundo, é no mínimo surreal imaginar uma galinha feliz dentro de um forno; terceiro, já não há lenhadores.
Este anúncio é um atentado à inteligência dos humanos, aos direitos dos animais e a tudo o que possa ser considerado lógico ou razoável.
Ou seja, por outras palavras, é um anúncio excelente.
Hoje em dia nada interessa dizer verdades ou coisas inteligentes. O que chama a atenção, o que faz sucesso, é o absurdo, o ilógico e o irracional.
Portanto, vivam as galinhas. Viva o fiambre de galinha. Vivam os lenhadores que conversam com galinhas.
Ubu está vivo!